quinta-feira, 31 de julho de 2014

Don't Break My Heart - Capítulo 38

/Raquel on



      Assim que pus meus pés na Europa, logo me bateu uma saudade da minha rústica Inglaterra... Por dois segundos esqueci de Christian. A viagem de carro foi longa, quase duas horas de puro tédio. Em Stratford não há aeroporto por ser uma cidade pequena, tivemos que ir para a cidade vizinha e lá embarcamos. Eu já havia estado na França antes, mas nunca em Paris. Quando passamos pela torre Eiffel, a aeromoça anunciou do alto-falante. Foi uma cena linda ver a torre de cima.

O fuso-horário estava me deixando confusa, saímos do Canadá cedo, apenas entardeceu, e agora está cedo novamente. Me sinto num universo paralelo, nunca me acostumei com fuso-horários. Acredite, eu quase enlouqueci no Japão.

Roberto foi a viagem de carro inteira dormindo com a cabeça deitada no meu colo. Percebi que Anelise sorriu automaticamente ao ver aquela cena pelo espelho retrovisor. Foi aí que eu percebi seu jovial piercing no tragus. E isso a deixou ainda mais nova do que já parecia aos meus olhos e aos olhos do resto do mundo.

O carro entrou num extenso condomínio. O dia estava nublado. Não faz muito sol na França, na verdade, estava bem frio. Percebi quando saímos do carro, cobri meus braços com as mãos me abraçando para conter o frio incessante, bati os dentes. Roberto, Anelise, e pelo visto o motorista também estavam acostumados pois não sentiram o tamanho desconforto que eu senti. Anelise abriu sua mala e retirou um imenso casaco de pele dali, entregando-me. Fomos caminhando pelas ruas do condomínio, algumas pessoas andavam por ali naquele momento. Todas não muito agasalhadas. Costume. Eu estava tremendo. Roberto passou a mão pelo meu ombro, colando seu corpo quente no meu. Ele era uns 10 centímetros mais alto que eu. Bastante pra um irmão gêmeo.

-Já estamos chegando, irmãzinha. Lá tem aquecedor, aposto que você colocará no máximo, certo?
Eu ri

-Me conhece bem! - Falei pausadamente por conta dos dentes que não paravam de bater.

Andamos por umas vinte casas, todas mansões com piscinas imensas, mas pré-congeladas. O Inverno estava anunciando sua chegada em Paris. E então finalmente chegamos ao nosso destino. Me deparei com uma enorme mansão mesclada em beje e branco. Uma mansão quase do tamanho da de Justin. E a "casa" de Justin era quase um castelo.

-Chegamos, meus amores! - Disse Anelise atravessando o imenso jardim.

O mais curioso do jardim era que as plantas estavam em estado de condensação. Estavam completamente geladas e endurecidas, estavam vivas e congeladas. Era uma visão realmente linda, aquelas plantas parecendo esculturas de cristal. Quando nevar então, ficará um colírio para os olhos.

Quando eu entrei na casa, encontrei uma sala de estar que mais parecia um salão. Havia um termostato e dois aquecedores, mas apenas um deles estava ligado. O pequeno sinal de calor me fez sentir um alivio. Amo frio, mas eu estava virando sorvete de Raquel lá fora.

Haviam também duas empregadas e uma babá. O lustre bem no topo da copa da sala foi o que mais me chamou atenção. Era um "objeto" que provavelmente era maior do que eu e mais brilhante que diamantes. Olhando bem, aquilo era de diamantes. Sinto cheiro de Ostentação.

Anelise atravessou o corredor, virou a primeira esquerda e subiu uma escadaria que mais parecia coisa de filme da Disney. Roberto se jogou num sofá branco que devia ter uns três metros de comprimento. Em sua frente uma televisão imensa. Ele bateu a mão no espaço ao seu lado.

-Fica a vontade! - Falou sorrindo.

Assim que eu cheguei perto do sofá para me sentar, ouvi duas vozes finas e femininas no andar de cima. Logo em seguida barulho de gente correndo e risadinha exalaram pela sala. Não demorou muito para que duas meninas de pele bem clarinha e olhos incrivelmente azuis surgissem no pé da escada. Correram e pularam em cima de Roberto.

-Rob! Tu m'as manqué! Pourquoi at-il fallu si longtemps? - Falou a mais alta.

-Content que tu sois de retour! - Disse a que parecia ter uns nove anos.

Eu tinha entendido pouca coisa, estavam o perguntando por que demorou tanto, falando algo de que sentiram falta dele e que estão felizes por ele estar de volta. O jeito que elas falavam era uma gracinha.

De repente as duas viraram o pescoço na minha direção. Cochicharam para Roberto:

-Qui est cette fille? - A mais velha perguntou quem eu era.

-Vous souvenez-vous quand Anelise dit que j'avais une sœur? - Roberto respondeu sorrindo pra mim. Ele falou tão rápido que não deu tempo de traduzir.

Elas fizeram uma cara bem engraçada quando ele disse tal frase. Acho que estava dizendo algo de que eu era a irmã dele.

A mais nova chegou perto de mim, a mais velha torceu o nariz. Parecia que estavam me analisando.

-Eh bien, Elle vous ressemble... - A mais velha disse que pareço com ele.


A mais nova tentou dialogar comigo, mas logo Roberto avisou que eu não falava muito de francês. E por fim, elas não falam português e pouco de inglês. Ou seja, não tem muito o que conversar.

A mais velha tinha um jeito estranho de me olhar, ela era um pouco mais nova que eu. Deveria ter uns 13 anos. A mais nova devia ter no máximo 10, tinha um rosto que parecia porcelana. Elas pareciam duas bonecas. No bom sentido.

As duas estavam vestidas em camisolas brancas de seda e a mais nova não largava um cachorrinho de pelúcia.

De repente, um homem , que quando eu olhei pensei: "Puta merda, cheguei no Paraíso" surgiu descendo as escadas junto com Anelise. Cacete! Quem diria que aquele homem poderia ser o famoso Fançois?! Eu imaginava um velho! Pra um homem de quase 40 anos... Cacete!

      Primeiro ele falou com Roberto, que apertaram as mãos e se abraçaram, depois seu olhar se voltou para mim, ele me analisou, perdi a respiração...

-Parlez-vous français? - Ele perguntou, ate o jeito que ele falava era sexy! Minha mãe hein! Que bom gosto.

Anelise estava pronta para falar quando eu a interrompi.

-Juste un peu, ici je vais passer une honte!

O expliquei que sabia um pouco e que iria passar vergonha , ele gargalhou.

-É um prazer conhecer a filha da minha esposa. Rachel, certo? - Ele disse em português que mais parecia o de Portugal.

-Na verdade, Raquel. - Falei envergonhada. Ele me deu um beijo em cada lado do rosto. - Mas as pessoas me chamam muito de Rachel, no Canadá essa confusão acontece o tempo inteiro! - Ele sorriu... Achei que fosse o sol mas era só o meu padrasto sorrindo.

-Filha, essas são: Fleur - apontou para a mais nova - e essa é Charlotte.

-Les filles, c'est ma fille Raquel. - Disse a minha mãe me apresentando para as meninas. A duas sorriram e eu retribui. Foi o máximo de contato que tivemos.

Eu amava ver o jeito fluente que minha mãe falava francês, era impressionante como ela dominava bem esse idioma. Assim como eu dominava o Inglês, ela dominava o Francês.

Até que acordei.

-MÃE! - Todos na sala se assustaram com o meu grito.

-O QUE?! - Ela gritou quase automaticamente.

-O CHRISTIAN!


(...)


/Christian on
     



      Eu estava uma pilha de nervos! Como em sã consciência a Raquel viaja e não me manda uma mensagem, ligação, sinal de fumaça, bilhete, qualquer coisa que me avisasse? Como vamos ficar separados durante as férias todas? Eu tinha um milhão de coisas em mente! Calma, Christian, calma, ela jamais faria de proposito, não é? NÃO É?!

Ai que paranoia.

-Caitlin! - Gritei do meu quarto. Ela chegou incrivelmente rápido.

-O que é?! - Disse abrindo minha porta com uma certa verocidade.

-Cadê o Marcos?!

-Sei lá, ele é meu namorado, não nasci colada com ele. Deve estar em casa, por quê? O que quer com ele?

-Ele tem alguma noticia da Raquel?!

Ela me pediu para esperar e tirou o celular do bolso, discagem rápida e logo em seguida me colocou na linha.

-Oi amor, o que houve? - Atendeu.

-Ai que nojo, não vem com essa de meu amor! Teve noticias da Raquel?

-Hãn? Pera... Christian? Por que está no celular da Caitlin?

-Responde logo, caralho!

-Sei la cara, noticia do que? O que houve, porra?!

-Ela viajou pra França e não deu noticia.

-Ah moleque, relaxa, daqui a pouco ela ta de volta, coisa do pai dela.

-Ih ta muito enganado, tem um lado feminino nesse parentesco.

-Calma, ai... A MÃE DELA?

-Isso aí

Ele soltou uma profunda gargalhada.

-Ih rapaz, Anelise apareceu? Fodeeeeeu! - Falou rindo.

Desliguei.

-E aí? Ele sabe de alguma coisa? - Caitlin perguntou pegando o celular.

-Claro que não, seu namorado é igual uma porta.

-Mais uma coisa que vocês tem em comum.

Respirei fundo. Ela estava estranhamente nervosa. TPM.

Eu cai na cama e suspirei.

-Isso só pode ser brincadeira. - Sussurrei pra mim mesmo.

-Olha só, tenho mais o que fazer. Se precisar de mais alguma coisa, não me chame.

-Ui.

Ela bateu a porta.

Eu estava pior que cego em tiroteio.


(...)


/Raquel on
     


      Minha mae me passou o celular mas ligar da Europa pra América do Norte, além de ser caro - isso não era um real problema pra eles - a ligação ficava um lixo! Eu estava entrando em colapso, como em sã consciência eu fui concordar com isso? Além do que: Falar esse tipo de coisa por mensagem não é realmente aconselhável.


-Vamos conhecer seu quarto? - Disse minha mãe quebrando o silêncio da minha mente barulhenta.

-Fazer o que, né? - Falei baixo e abri um sorriso amarelo.

Subimos aquelas escadas dignas de um castelo, logo me encontrei diante de uma bifurcação. Mamãe me indicou para a esquerda e assim fomos. Juro que passamos por uns 15 cômodos até subirmos mais um lance de escadas. Fiquei levemente ofegante, estou fora de forma.

Anelise passou por um quarto onde havia um porta azul cheio de colcheias, claves de sol e outros símbolos musicais, e paramos na frente de um quarto com porta preta decorado em caveirinhas fofas e guitarras. Porta dos sonhos.

-Conheça seu quarto.

Ela abriu a porta. Meu queixo caiu.

Maluco, o lugar dava três do meu quarto no Canadá!

Paredes mescladas em branco e preto, carpete magenta, uma televisão maior que minha janela, um closet estilo Hannah Montanah, cama king size... Ai, mas eu não quero outra vida!

Me joguei na cama. Me senti flutuar, calma ai!

Cama d´água?!

O QUEEEEEEEEE???

-Ai, eu não acredito! - Gritei. -Isso tudo é meu?! Que improvável!

-Claro que é seu, Raquel! Meus filhos merecem tudo do melhor. - Eu ri.

-Mãe! Obrigada! - Pulei do meu oceano particular e me enfiei no closet. Gente, aquilo era imenso, era outro quarto, um quarto só pra minhas roupas dormirem. Ai meu Deus! To me sentindo a garota mais feliz desse mundo!

-Caralho, essa gente nada em dinheiro! - Falei pra mim mesma. Eu ri. - Minhas roupas não vão cobrir nem um terço desse lugar!


(...)